PROFESSOR ENSINA COMO TREINAR O CÉREBRO

Por Monique Bueno

Para Piazzi, excesso de televisão emburrece; pesquisar na internet é copiar os outros e pais precisam dar exemplo na busca por mentes brilhantes

Araçatuba - A educação brasileira caminha com passos lentos na busca pela qualidade. Qual seria o motivo? Será que os alunos não são bem preparados pelos seus professores ou não são inteligentes o suficiente para aprender as matérias ensinadas?

As perguntas foram analisadas pelo satírico e um tanto polêmico italiano Pierluigi Piazzi, professor de curso pré-vestibular há 40 anos, radicado no Brasil há pelo menos 50.

Professor Pier, como é chamado pelos seus alunos (já preparou mais de 100 mil estudantes para o exame vestibular), aliou sua experiência como mestre e os conhecimentos adquiridos ao lecionar Inteligência Artificial e Configuração de Redes Neurais em um curso de Engenharia da Computação, e conseguiu identificar os equívocos que tornam o Sistema Educacional Brasileiro, segundo ele próprio, um dos piores de todo o mundo.

Na entrevista a seguir, ele dá a receita a alunos, professores e pais, de como se tornar mais inteligente.

Os ingredientes estão inseridos em seu livro "Aprendendo Inteligência - Manual de Instruções do Cérebro para Alunos em Geral", da Coleção Neuro-Pedagogia - Volume 1.

Para o professor Pier, um dos ingredientes importantes da receita é obrigar o cérebro a fazer "musculação mental", com exercícios difíceis como palavras cruzadas, xadrez, solucionar problemas de matemática ou tentar resolver as questões que considerou mais difíceis durante as aulas do dia, etc.

Seu livro traz a mensagem: Só escreve bem quem lê bem e só lê bem quem lê muito e só lê muito quem lê por prazer. Dessa maneira se alcança a inteligência?

Professor Pier - A lingüística já determinou, há muito tempo, que "o homem não fala porque pensa, mas, pelo contrário, pensa porque fala!" A leitura promove um enriquecimento no repertório de raciocínios, uma maior agilidade mental, uma maior articulação. Em resumo, uma maior inteligência!

Estranhamente aqui nos defrontamos com um caso em que a quantidade é mais determinante que a qualidade. Precisamos acabar com a mania pedante das "boas leituras".

O que interessa é que se leia muito e isso só ocorre quando a leitura for fascinante, divertida, cativante. E, pensando bem, quem determina o que é uma "boa leitura"?

É o leitor e não um fossilizado professor universitário que obriga os candidatos ao vestibular a ler um chato e obsoleto "clássico".

Criou-se uma indústria de aulas de reforço. Essas aulas são necessárias ou o aluno tem capacidade de estudar sozinho?

A verdadeira função de um Sistema Educacional sério e eficiente é transformar o estudante em um autodidata. É infinitamente mais importante o tempo que o aluno passa no chamado estudo solidário do que o que ele passa assistindo, passivamente, às aulas.

Desconfie das escolas que entopem os alunos de aulas ou, pior ainda, que obrigam os pais a gastar verdadeiras fortunas com as aulas particulares.

O senhor ensina os alunos a estudarem pouco, mas todos os dias, e afirma que a mente não consegue se concentrar se a pessoa não der um intervalo de pelo menos 10 minutos a cada 30 minutos de estudos. Como descobriu isso?

Estudando o funcionamento dos neurônios. Existe uma enzima, nas células do cérebro, que induz a formação de novos dendritos, aumentando assim a complexidade das redes neurais.

Essa enzima se esgota em aproximadamente 40 minutos e só se refaz depois de uns dez.

O intervalo de dez minutos entre cada meia hora de estudo é fundamental para restaurar o pleno funcionamento do cérebro.

É um mecanismo análogo ao que nos obriga a esperar alguns minutos para voltar a enxergar depois de entrar em um cinema escuro vindo de um dia ensolarado.

Se você não der um tempo para que a rodopsina (proteína) da retina se refaça, você fica temporariamente cego.

Como estimular uma criança a ler hoje em dia, com tanta concorrência eletrônica (TV, videogame e computador)?

Esse é o grande problema! Uma saída é controlar o tempo de uso da eletrônica, inclusive dando o exemplo.

Em um lar onde se comete o absurdo de se deixar o televisor da sala ligado permanentemente.

Onde os pais acreditaram ingenuamente em propagandas que afirmam ser o computador uma ferramenta que aumenta a inteligência dos filhos, dificilmente teremos um ambiente propício a um incremento da inteligência.

O que deve ser feito é não se cometer o crime de colocar um computador ou um televisor no quarto do filho e tomar consciência de que esses equipamentos, mal usados, são as causas da crescente "imbecilização" de nossa juventude.

Como os pais podem despertar a inteligência de seus filhos?

Quando a aeromoça afirma, nas instruções de segurança antes da decolagem, que "em caso de despressurização da cabine coloque a máscara de oxigênio primeiro em você e só depois na criança a seu lado", está, no fundo, dizendo que se você não se ajudar, dificilmente terá condições de ajudar quem é dependente de você.

O conselho que dou aos pais é: dê o exemplo! Ou seja, desligue a TV e pegue um livro. Torne-se, você, papai ou mamãe, cada vez mais inteligente.

Controle o uso da parafernália eletrônica e, principalmente, nunca cometa a suprema imbecilidade de mandar seu filho estudar porque tem prova! Quem estuda pouco, mas todo dia, não precisa (e não deve) estudar para a prova.

E como os professores podem incentivar a inteligência dos alunos?

Professor, vire 180 graus e pare de se preocupar em melhorar suas aulas. O que vocês precisam é se preocupar com o incentivo ao estudo solitário depois da aula. Não dê uma aula sem que esteja planejada uma tarefa inteligente.

Na aula, o aluno não aprende, apenas entende. É no estudo solitário que ele realmente aprende.

E lembre-se, o professor de qualquer disciplina, desde educação física à matemática é, antes de mais nada, um professor de leitura.

Essa não é uma tarefa exclusiva dos professores de literatura que, aliás, ultimamente a tem desempenhado de forma tão equivocada que têm conseguido, isso sim, criar o ódio pela leitura.